Assim como sabemos que as crianças de hoje são diferentes das crianças de 20, 30 anos atrás e que as relações que estabelecemos com nossos filhos são diferentes das estabelecidas com as gerações anteriores, é notório também que os estudantes de hoje são muito diferentes de antigamente.
A transformação do estudante mudou a dinâmica em sala de aula e transformou a hierarquia entre professor e aluno. Com isso, a escola também não pode mais ser a mesma de antes, com os mesmos objetivos e práticas. O professor e historiador Leandro Karnal, durante entrevista para o blog, afirmou que a velocidade das transformações é tão grande que, muitas vezes, professores, escolas e estudantes não sabem como lidar com essa realidade e não conseguem acompanhar as mudanças que a educação moderna exige. “Os jovens e as crianças não sabem exatamente onde estão, nem para onde vão, nem o que querem, o que não chega a ser negativo”, afirma Karnal. Para ele, a era anterior, de certezas muito claras, em que a ideia de transmissão de valores e conteúdos era única e tão somente aquela, produziu muito autoritarismo no passado.
Não existem modelos prontos
“A dúvida de hoje pode ser benéfica, na medida que mostra que a falta de certeza leva à necessidade de reflexão”, reforça Karnal. Educadores, hoje, mostram-se muito mais dispostos a pensar, a se reunir, a debater em busca do melhor caminho, porque já não existe mais um modelo pronto. “Yuval Harari, autor de Homo Deus e Sapiens, disse numa entrevista que é a primeira vez que nós não sabemos o que ensinar à geração seguinte”, destaca Karnal.
Para o historiador, não se trata mais de tornar o conteúdo interessante, com aspectos lúdicos e coloridos, como vinha sendo feito há muito anos. “Trata-se de pensar que tipo de conteúdo será pertinente e qual será a utilidade dele, por exemplo, daqui a 30 anos”, explica. O modelo de transmissão de conteúdo no Brasil tem como referência o modelo francês, que defende que se deve ensinar tudo a fim de tornar o estudante matemático, geógrafo e biólogo ao mesmo tempo. “Isso está sendo questionado. É um modelo do século XIX dado por professores nascidos no século XX para alunos do século XXI que, segundo os estudos atuais, provavelmente chegarão ao século XXII”, coloca Karnal.
O objetivo não é mais a memorização
Para o professor, não cabe mais à escola moderna apenas transmitir conteúdos de forma mecânica, visando a memorização, que garantirá um bom desempenho no vestibular. Karnal defende que é preciso mudar o processo de educação: “em primeiro lugar, é preciso abandonar a memória como objetivo. A memória está ao alcance da mão, no celular. Não é mais necessário que a memória conste como objetivo educacional.Saber coisas de cor tem hoje uma validade muito menor do que há 50 anos”, destaca o historiador.
“A grande revolução é fazer o professor entender que ensinar não é transmitir respostas, mas formular perguntas que podem mudar a todo instante. Como eu, professor, não fui formado sob esse sistema, a revolução começa comigo. Eu é que tenho que readequar a minha postura diante da minha área, que é a história. Cada um tem que se readequar diante de uma área e mudar a sua forma de pensar. E daí passar a questionar o que serve, de fato, para um jovem de 14 anos que terá 50 num mundo completamente diferente desse. Quais são as habilidades que permanecerão? Fazer perguntas, ter curiosidade, ser capaz de analisar imagens e letramentos variados e, acima de tudo, ter autonomia e senso crítico. Isso será sempre fundamental numa sociedade aberta e dinâmica”, finaliza Karnal.
(Crédito da foto: R. Trumpauskas/Divulgação)
Fonte: Editora Positivo – Acessado em 06/10/2017 – às 16:40